sábado, 27 de novembro de 2010

Encontro e despedida

Há muito Ceres não escrevia nada, parecia ter deixado de lado o que eu mais gostava de ler, suas cartas misteriosas, escritas não se sabe para quem. Muitas vezes parecem cartas de desabafo e dor, mas muitas vezes de amor, e por outras indicando seu dia-a-dia. Seus remetentes, nunca conhecidos, parecem sentir suas palavras, da mesma forma como um simples abraço parece falar, ou como um simples beijo parece denunciar... E num descuido de Ceres, que sempre vive em mundo próprio, peguei esta carta, que escrita com letras cor de rosa, dizia:

Meu caro.

Não tenho opção que não seja escrever. Palavras que nada dizem, mas que cura meu interior. Parei para olhar a vida e me esqueci do tempo de agora. Quando cheguei, senti um vazio, um desconforto na alma, desconforto esse que parece ser o final quando ao mesmo tempo parece ser um começo. O final da alegria...o começo...
Os fatos acontecem em nossas vidas como relâmpagos, que muitas vezes cegam nosso olhar, e por vezes parecem machucar os sentimentos, ecoando como trovões na alma. Sempre há cura! Mas a cicatriz e a dor, nunca esquecidas. Não há cura para o sentimento.
Mas estou esperando uma palavra sua, estou esperando seu carinhoso abraço. Suas palavras doces ganharam meu coração, e eu que pensei que elas nada diziam! Você parecia ter chegado para ficar, com jeito simples e amável, fez com que meus dias se tornassem mais felizes. Parecia me conhecer com tal profundidade...
Mas tudo que chega parece também ir e tudo o conhecemos parece agora desconhecido. São apenas dois lados de uma mesma moeda. Vai e vem. O dito pelo não dito. Assim como a dualidade escondida em mim, existe a dualidade de vida também em ti. Minha imaturidade não permite entender as diferenças. A confiança foi tanta, as expectativas ainda maiores (esse o meu maior defeito). Meu lado criança, agora, chora. Meu lado mulher encontra-se magoado.
No meu país das maravilhas você chegou com tanta magia e da mesma maneira se foi. O meu mundo estará sempre aqui. Volta se achar que deve, mas fique do lado de lá, se nada puder entender. Na contradição e na dualidade...Respirando o ar lilás...

Ceres.


Márcia Alcântara
Primavera sem flores de 2010.