quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Asas

Segunda parte

Foi ai que Ceres pode perceber todas as coisas que pareciam conter além da clareira. Lá de cima podia ver a copa verdinha das árvores, podia ver ao longe o véu de agua que caia de cima das montanhas antes nem imaginadas, podia sentir o quão macio era o ar, e o quão úmida era as nuvens, podia sentir o frescor do Sol que aquecia as águas salgadas do mar. Lá de cima era muito fácil confundir o azul do mar com o azul do céu... Quanta coisa podia perceber. Não imaginava que dominada pelo medo do desconhecido deixara de conhecer tantas coisas.

Quando Ceres deu por si, estava de volta a clareira. O pássaro pousou levemente e Ceres colocou o pé no chão. E então aconteceu algo inusitado, estranho. Ceres aumentou de tamanho. Ela agora era muito maior que o pássaro que a levou para passear pelo ar. O pássaro, agora pequenino, pousou na mão de Ceres revelando a ela um segredo. Revelou a Ceres que por ela estar com medo de todas as coisas desconhecidas tinha se tornado pequena, tão pequena que todas as coisas podiam amedrontá-la.

Agora que Ceres tinha então conhecido o desconhecido que a amedontrava. Não sentia mais medo naquele momento. O que parecia dominar agora a grande Ceres era a curiosidade. E enquanto se punha a pensar o pássaro se foi. Ceres correu repleta de duvidas, tentando pega-lo. Não queria ficar sozinha. Ceres parou. Sentiu que estava ficando pouco a pouco menor. E então se lembrou das palavras do pássaro e engoliu o medo. Parou de diminuir. Quando deu por si estava bem próxima as árvores. Olhou para traz e podia ver o circulo que formava clareira. Ela estava nos limites do mundo que pensava antes do passeio pelo ar ser o único. Como Ceres foi ingênua ao pensar só existir aquela clareira.

Ceres respirou fundo. Colocou o pé fora do circulo que ela própria tinha imaginado ser o único e sentiu o cheiro do mato, das árvores... Quanta energia nunca sentida. Continuou a se afastar do mundo criado por ela própria, quando um canto escutou. Era um canto encantador. Um som, uma melodia tão suave... e do nada, o canto cessou. Ceres ficou atenta e pode ouvir agora um som que parecia ser as ondas do mar a quebrar na areia. Ceres ficou imaginando ser a praia que tinha avistado lá de cima.

Continuou a andar entre caule de árvores, grossos e finos. Marrons escuras e marrons claras. Conseguia ver passarinhos voando por cima da copa das árvores. Passarinhos azuis, verdes, amarelos... Mesclados. O som que pensava ser as ondas do mar a quebrar na areia havia parado. Mas o canto encantador recomeçou, quando Ceres pode ver a areia da praia sendo acariciada pela água salgada, o Sol a se por no horizonte, uma imagem realmente vale mais que mil palavras. Era tardezinha deduziu Ceres. Ceres reconhece alguns detalhes pelo aroma. E aquele aroma era o aroma do entardecer. O som, o canto aumentava. Ceres sentia que ele estava mais perto, mais perto, perto e... Ceres então avistou sobre uma pedra enorme, já dentro das águas do mar, o que parecia ser uma mulher, e parecia vir dela o canto. Cabelos na altura da cintura, negros como noite sem luar. De repente a mulher virou-se. Ceres boquiaberta mirou aquela imagem nunca vista por ela, era uma sereia...

A sereia fazia sinal para que Ceres se aproximasse, mas Ceres teve medo, receio... Foi quando começou a diminuir. Lembrou-se das palavras do pássaro. A sereia fazia sinal para que Ceres se aproximasse, ela então foi lentamente em direção a sereia que estendeu-lhe a mão. Ceres estendeu-lhe a mão também e...

Ceres, Ceres....

Marcinha Luna

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